Crédito da casa: como fica a Euribor com os juros do BCE inalterados?

Descida da Euribor deverá ser lenta e gradual, alertam analistas. Mas haverá alívios nas prestações da casa até final do ano.
19 jul 2024 min de leitura

As taxas Euribor têm vindo a descer, desde que o Banco Central Europeu (BCE) anunciou o ciclo de flexibilização da sua política monetária, que foi confirmado em junho. Mas esta quinta-feira a autoridade europeia liderada por Christine Lagarde decidiu não voltar a cortar os juros diretores, mantendo as taxas nos atuais níveis. Esta decisão irá influenciar a evolução da Euribor e, por conseguinte, as novas reduções das prestações da casa para quem está a pagar créditos habitação a taxa variável (e para quem pensa contratar um novo empréstimo). Os analistas de mercado admitem que a evolução da Euribor no curto prazo será incerta e que a queda das taxas deverá ser mais lenta e gradual do que o previsto.

Esta quinta-feira, dia 18 de julho de 2024, o Conselho do BCE voltou a reunir-se e anunciou o rumo da sua política monetária nos próximos meses. Depois de ter avançado com o primeiro corte dos juros diretores em junho (em 25 pontos base), o regulador europeu presidido por Christine Lagarde decidiu manter as três taxas de juro nos atuais níveis. E, assim, a taxa de refinanciamento – que tem impacto na Euribor – vai manter-se nos atuais 4,25% até, pelo menos, dia 12 de setembro, data da próxima reunião do “guardião do euro”.

A decisão tomada agora pelo BCE vai ter impacto no crédito habitação nos próximos meses. Isto porque influencia diretamente a evolução da Euribor em julho e agosto, indicador que está a descer há vários meses. E, por conseguinte, vai também impactar as (potenciais) reduções das prestações da casa relativas aos empréstimos habitação a taxa variável (ou mista em período variável).

  1. Euribor continua a descer e prestações da casa a baixar
  2. Procura de crédito habitação está a aumentar na Europa - e em Portugal?
  3. Como vai evoluir a Euribor nos próximos meses?
  4. Novos alívios das prestações da casa à espreita

Euribor continua a descer e prestações da casa a baixar

As taxas Euribor têm vindo a descer há vários meses (embora de forma não linear), antecipando o corte dos juros do BCE que foi anunciado pelo próprio regulador no início de 2024 e confirmado em junho.

Depois de o regulador europeu ter avançado com o primeiro corte dos juros diretores na reunião do mês passado, as taxas Euribor mensais voltaram a cair para todos os prazos em junho face ao mês anterior, fixando-se nos seguintes valores:

  • Euribor a 12 meses: a média mensal de junho foi de 3,650%, menos 0,03 pontos percentuais (p.p.) face a maio (3,680%);
  • Euribor a 6 meses: esta taxa mensal caiu para 3,715% em junho, menos 0,072 p.p. do que em maio (3,787%);
  • Euribor a 3 meses: a taxa do prazo mais curto foi a que desceu mais, passando de 3,813% em maio para 3,725% em junho (-0,088 p.p.)

Euribor a 3, 6 e 12 meses: como evoluiu nos últimos anos?

Taxa média mensal desde maio de 2007 até junho de 2024


200820102012201420162018202020222024−10123456%Euribor 6 mesesMai ’111,707%Euribor 6 mesesMai ’111,707%
Euribor 3 meses
Euribor 12 meses
Euribor 6 meses
Criado com Datawrapper

“Desde que o banco central iniciou o seu ciclo de flexibilização, a Euribor a 12 meses tem vindo a descer de forma constante: até, então, o indicador estava acima dos 3,7% e agora está abaixo dos 3,6%. Em julho, a média provisória do mês situa-se nos 3,589%, pelo que, a continuar assim, o indicador prepara-se para registar o quarto mês consecutivo de descidas”, analisa David Brito, diretor-geral da Ebury Portugal, em declarações ao idealista/news.

Como seria de esperar, as recentes descidas da Euribor têm vindo a reduzir as prestações dos novos créditos habitação em Portugal (a taxa variável), embora de forma ligeira – tal como mostramos neste artigo que tem por base simulações do idealista/créditohabitação. Também quem já está a pagar um empréstimo da casa viu baixar as prestações revistas em junho (ainda que pouco).

Juros do BCE
Christine Lagarde, presidente do BCEGetty images

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Procura de crédito habitação está a aumentar na Europa - e em Portugal?

A trajetória descendente da Euribor também já começa a ter efeitos no mercado hipotecário em Portugal e na Europa. Isto porque já se sente um aumento da procura por novos créditos habitação na área euro e as expectativas estão mais otimistas em Portugal sobre esta matéria. Além disso, o montante nos novos créditos habitação tem vindo a aumentar no nosso país.

Segundo o mais recente inquérito sobre empréstimos bancários publicado pelo BCE, a procura de crédito habitação aumentou na zona euro no segundo trimestre pela primeira vez desde 2022, enquanto os bancos flexibilizaram as condições de acesso a esse tipo de financiamento.

Já em Portugal a procura de empréstimos habitação por parte de particulares manteve-se “praticamente sem alterações” no segundo trimestre de 2024 face ao trimestre anterior, segundo concluiu o Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito do Banco de Portugal (BdP). Ainda assim, importa salientar que o montante dos novos contratos de crédito habitação tem estado a subir deste fevereiro deste ano, tendo alcançado dos 1.375 milhões de euros em maio (+1,8% face ao mês anterior). Por outro lado, as renegociações e as amortizações antecipadas têm vindo a cair.

Além disso, o supervisor liderado por Mário Centeno espera que no verão deste ano haja “um ligeiro aumento da procura de empréstimos” por parte dos particulares, que será “mais acentuado no segmento da habitação”. Por detrás desta expectativa também poderão estar os novos apoios do Governo destinados aos jovens até aos 35 anos que querem comprar casa, nomeadamente a isenção do IMT e Imposto do Selo, e a garantia pública no crédito habitação. Enquanto a primeira medida deverá estar em vigor em agosto, a segunda já entrou em vigor a 11 de julho e espera regulamentação.

Crédito habitação em Portugal
Freepik

Esta recuperação do mercado hipotecário no nosso país deve-se às recentes descidas da Euribor. Mas não só. Há outros fatores que estão a contribuir para estimular a procura de crédito da casa pelas famílias que vivem em Portugal, como:

  • Spreads mais atrativos: o spread médio dos novos contratos de crédito habitação com taxa variável prosseguiu a tendência de descida dos últimos anos, passando de 1,09% em 2022 para 0,93% em 2023, revelou o regulador português. Muitos bancos já estão a oferecer spreads a 0,7%;
  • Taxas mistas mais baixas: os bancos também estão a oferecer melhores condições a créditos da casa a taxa mista, sobretudo com períodos iniciais de fixação dos juros bem curtos (2 ou 5 anos, por exemplo). Estas campanhas têm atraído muitas famílias, de tal forma que, em maio, 76% dos novos empréstimos à habitação (própria e permanente) foram contratados a taxa mista, de acordo com os dados do BdP;
  • Maior poupança das famílias: com a subida dos salários e a redução da inflação, as famílias passaram a ter maior poder de compra e mais poupanças. E com o aumento das poupanças no último ano terminado em março, as famílias aumentaram a sua capacidade de financiamento, explicou o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Novos créditos habitação
Freepik

Como vai evoluir a Euribor nos próximos meses?

Com a manutenção dos juros do BCE na reunião de julho, os especialistas de mercado admitem que a Euribor poderá continuar a oscilar durante o verão, mas mantendo uma trajetória de descida lenta. Isto porque as taxas Euribor já têm vindo a descontar o corte dos juros do BCE nos últimos meses. 

Claro está que a trajetória da Euribor até ao final de 2024 vai continuar a depender das decisões futuras do BCE. Agora, os mercados financeiros admitem que o próximo corte dos juros diretores será em setembro (de 25 pontos base), seguido de outro em dezembro de igual magnitude, tal como explicamos neste artigo. Caso este cenário se confirme, a taxa de refinanciamento do BCE ficaria nos 3,75% no final do ano, estimulando novas descidas da Euribor de forma lenta e gradual.

“Neste momento, existe uma grande incerteza quanto ao ritmo das futuras descidas das taxas, pelo que a evolução da Euribor é também algo incerta, pois dependerá da magnitude e do calendário das próximas descidas na zona euro. É bastante provável que a queda do indicador seja mais lenta e gradual do que o previsto anteriormente”, admite David Brito, da Ebury Portugal.

Estas são as previsões de alguns analistas de mercado para a evolução da Euribor até ao final de 2024:

  • a Ebury Portugal admite que a Euribor se situe em torno dos 3% - 3,5% no fim do ano;
  • o Bankinter vê a Euribor em torno de 3,5% no final do ano (piorou as previsões que colocavam antes a taxa nos 3,25%);
  • o BBVA Research admite que a Euribor ficará em 3,3%;
  • a espanhola Funcas coloca o indicador nos 3,2% em 2024.
Euribor no crédito habitação
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Novos alívios das prestações da casa à espreita

Ao que tudo indica, a descida da Euribor deverá ser lenta e moderada nos próximos meses, caindo em linha com as decisões futuras do BCE. E a taxa de referência poderá fixar-se, portanto, entre 3% e 3,5% até ao final deste ano, o que se refletirá num ligeiro alívio das prestações da casa, tal como mostram as simulações do idealista/créditohabitação, tendo em conta novos empréstimos da casa de 150.000 euros (com spread de 0,7% e prazo de 30 anos):

  • se a Euribor a 6 meses cair dos atuais 3,715% (média mensal de junho) para 3,5%, significa que as prestações mensais vão descer dos atuais 752 euros para 733 euros (menos 19 euros);
  • se a Euribor a 6 meses descer para 3,25% este ano, as prestações da casa passam para 711 euros (menos 41 euros);
  • se no final do ano a Euribor a 6 meses estiver em 3%, as prestações da casa serão de 690 euros. Isto quer dizer que se uma família contratar um crédito habitação a taxa variável no final deste ano pagará menos 62 euros de prestação durante o semestre seguinte do que quem se antecipou e contratou o empréstimo da casa em julho.

Novos créditos habitação: quanto poderá descer a Euribor em 2024?

Euribor no caso A corresponde à taxa mensal em junho
Casos B,C e D tratam-se de previsões da Euribor para 2024
Novo crédito habitação de 150.000 euros, com spread de 0,7% e prazo de 30 anos

Estas projeções mostram, portanto, que as famílias que vivem em Portugal podem esperar uma descida progressiva da Euribor ao longo de 2024, embora tudo indique que esta trajetória será bem mais lenta do que a sua fase ascendente. Enquanto os novos créditos habitação de taxa variável vão logo refletir as menores taxas Euribor, nos empréstimos da casa existentes a descida da Euribor vai ser sentida só quando as prestações da casa forem atualizadas trimestral, semestral ou anualmente.

É isso mesmo que diz Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal: o atraso nas reduções da Euribor "fará com que sejam adiadas as revisões em baixa das prestações dos créditos habitação a taxa variável existentes. Por outro lado, neste momento, “a situação é mais favorável para as famílias que procuram um novo empréstimo da casa, uma vez que a concorrência entre instituições bancárias fez com que os spreads dos novos créditos tivessem sido reduzidos no início do ano, sendo previsível que continuem a mesma tendência até dezembro", acrescenta.

Fonte: Idealista

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